Nenhum investimento está isento de riscos, nem mesmo a

Não à toa, a poupança é, de longe, o investimento líder em captação no País.

Fonte: InfoMoney

Responda rápido: qual a aplicação financeira mais segura e menos arriscada? Se você respondeu poupança, saiba que não está sozinho. Investir na “boa e velha” poupança é, para a maioria dos brasileiros, sinônimo de retorno certo, ainda que pequeno quando comparado a outros tipos de investimento.

Não à toa, a poupança é, de longe, o investimento líder em captação no País. Em dezembro passado, a diferença entre depósitos e saques somou R$ 9,171 bilhões, o maior ingresso líquido mensal de recursos desde janeiro de 1995, quando a série passou a ser contabilizada pelo Banco Central.

Entre os fatores apontados para tamanha captação, está o recebimento do 13º salário e de lotes de restituição do Imposto de Renda, além de pagamentos de bônus corporativos típicos da temporada de final de ano. Fato é que os brasileiros veem na caderneta de poupança um investimento isento de riscos. Qual deve ser a surpresa que eles têm ao saberem que a poupança acumulou na década passada um retorno real negativo.

Poupança na década
Uma coisa é analisar apenas o número simples de rentabilidade de uma aplicação. Outra, é compará-lo à evolução da inflação no mesmo período. Afinal, pouco adianta ver seu montante investido render, por exemplo, 8%, se a alta dos preços for de, suponhamos, 9%. Este é um caso de retorno real negativo, onde, considerando o poder de compra da moeda, a pessoa na prática acaba perdendo dinheiro.

Foi o que aconteceu com quem abriu uma caderneta de poupança em 2000. O retorno acumulado pela aplicação preferida dos brasileiros no período de 2000 a 2009 ficou em 126,75%, abaixo da alta contabilizada pelo IGP-M ( Índice Geral de Preços – Mercado), de pouco mais de 127%.

Se considerarmos os retornos reais, ou seja, descontados da inflação no período, o desempenho da poupança, bem como de outros instrumentos de aplicação, foi o seguinte: 

Investimento Acumulado 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000
Ibovespa  76,74%  85,85% -46,48% 33,32% 28,02% 26,19% 4,80% 81,56% -33,77% -19,38% -18,80%
CDI  93,40% 11,73%  2,23% 3,69% 10,73% 17,50% 3,21% 13,26% -5,11% 6,12% 6,64%
Fundo DI* 80,55% 11,23%  1,67% 3,14% 10,01% 16,57% 2,50% 12,19% -5,87% 5,34% 5,85%
Ouro  62,53%  -1,35% 20,31% 3,26% 8,54% 1,71% -13,58% -8,71% 44,39% 9,44% -3,64%
Poupança  -0,13% 8,79%  -1,75% -0,04% 4,34% 7,88% -3,84% 2,22% -12,90% -1,61% -1,42%
Dólar Ptax  -57,14% -25,49% 20,19% -23,15% -12,03% -12,87% -18,86% -24,23% 21,52% 7,51% -0,59%
Dólar Comercial  -57,09%    -24,11%                19,82% -22,87% -11,40% -13,48% -18,68% -24,77% 22,35% 7,26% -0,59%
IGP-M  127,06% -1,72%  9,82% 7,75% 3,83% 1,21% 12,41% 8,69% 25,30% 10,37% 9,95%

* Supondo um rendimento médio anual de 95% do CDI

“A poupança é tida por muitos como um porto-seguro. Os números registrados nos lembram de que nunca podemos deixar de relativizar essa visão”, afirma Paulo César Coimbra, professor de economia e finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Relativizando os números
No entanto, em economias em constante evolução como a brasileira, uma década pode ser um espaço de tempo muito grande para se tomar conclusões precipitadas. “É válido, sim, olhar para trás, mas sem esquecer das inúmeras mudanças pelas quais passou o mercado financeiro brasileiro neste tempo”, afirma, por sua vez, Jorge Knauer, gerente de tesouraria do Banco Prosper.  

Coimbra compartilha de opinião semelhante. “O governo Lula esteve constantemente entre a cruz e a caldeirinha nestes últimos anos quanto à posição a ser defendida em relação à poupança. Primeiro, delimitou a rentabilidade fixa. Agora, quer taxá-la com o Imposto de Renda”, pondera.

Além das tantas mudanças promovidas ou planejadas pelo governo, há de se considerar o amadurecimento do mercado brasileiro nesses 10 últimos anos. Para Knauer, ainda que a poupança tenha entregado retorno negativo no período, a caderneta era a aplicação com menor risco de default no começo da década.

“É importante ressaltar que há dois tipos principais de risco: o de rentabilidade e o de recebimento. Ainda que a poupança esteja suscetível ao primeiro, a pessoa que investe na caderneta tem praticamente 100% de garantia de que poderá resgatar sua aplicação. Afinal, se o governo quebra, todo mundo quebra junto. Em contrapartida, aplicar em CDBs de bancos privados, por exemplo, há dez anos, era muito arriscado por esse lado”, avalia Knauer.

Daqui para frente
Daqui para frente, prever o rumo da poupança brasileira passa por inúmeras variáveis. Duas delas, claro, são as trajetórias da inflação e da taxa básica de juro no País. E tanto Knauer quanto Coimbra se mostram relativamente otimistas. “No médio e longo prazo, aposto em um cenário inflacionário sob controle, respondendo à bem sucedida estratégia de metas adotada pelo governo”, afirma Paulo César Coimbra. Knauer concorda, prevendo um gradual declínio da taxa básica de juro brasileira, “colocando a poupança em clara posição atrativa”.

No entanto, o problema pode estar justamente em tal aumento da atratividade da caderneta de poupança frente a outros mecanismos de aplicação de renda fixa, notavelmente em relação aos fundos DI, “que ajudam o pagamento de dívidas do País”, como ressalta Coimbra. Para o professor da FGV, é possível que dentro de certo tempo, o governo revogue sua decisão de delimitar uma taxa fixa de rentabilidade à poupança.

“Ela é insustentável no médio e longo prazo, na medida em que o País segue em seu caminho de evolução. Após a fase eleitoral, prevejo, sim, mudanças”, alerta Coimbra.

Poupança vs outros da renda fixa
De qualquer forma, vale lembrar que a poupança não é o único instrumento de aplicação na renda fixa. Para os que procuram bons rendimentos e o mínimo de risco possível, Knauer sugere os títulos públicos do governo, o chamado programa Tesouro Direto. “A aplicação também possui baixíssimo risco de default e ainda conta com a vantagem de dispor de diversos títulos diferenciados, permitindo que o investidor escolha seu portfólio de acordo com o prazo e a indexação que melhor lhe convém”, afirma.

Por sua vez, os fundos DI são vistos com mais cautela. “O DI é mais complexo, exige muito mais cuidado, que às vezes o pequeno investidor não tem”, alerta Coimbra. A opinião de Jorge Knauer vem no mesmo sentido, ainda que esteja embasada também em outros fatores: “para o pequeno investidor, é o pior investimento na renda fixa, já que ele tem que arcar com as taxas de administração mais a incidência do Imposto de Renda”.

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